O CLIMA DA PENÍNSULA IBÉRICA (PI)
Preámbulo
Fuente: Jacques Descloitres,
MODIS Rapid Response Team,
NASA/GSFC
O clima da Península Ibérica
A península Ibérica desfruta no seu conjunto de um clima temperado, determinado pela sua latitude geográfica e acentuado por estar banhado por águas relativamente quentes. Devido à variabilidade ciclónica anual que experimenta a circulação geral da atmosfera, faz com que a PI seja dividida em 2 zonas climáticas notavelmente diferentes: uma setentrional praticamente limitada a Caliça, Cantábria e pirenaica, onde por causa da sua latitude fica quase todo o ano fora da influencia directa das altas pressões subtropicais, a chamada “zona verde” e outra muito maior, que compreende ao resto da PI e que durante os Verões fica sob influencia da “Zona Parda”.
Em consequência a Zona Verde está influenciada pelos ventos de Oeste durante todo o ano, pelas perturbações originadas ao longo da superfície frontal polar, o que faz que as suas características climáticas sejam as de Europa ocidental (Invernos suaves, verões frescos, ar húmido, abundante nebulosidade e chuvas frequentes em todas as estações). Contrariamente, na Zona Parda o contraste assinalado pelas condições da circulação geral entre os Invernos e o Verão, lhe confere o clima nitidamente Mediterrâneo (Invernos suaves nas regiões costeiras e severas no interior, verões quentes e secos e abundante Insolação e chuvas muito irregulares em Outono Inverno e primavera).Esta divisão em 2 zonas climáticas radicalmente distintas constitui a sua característica mais singular pelo que faz sentido fazer uma abordagem do clima regional Font, 1983.
A temperatura
A irregularidade da temperatura anual na PI se deve a irregularidade da orografia. A pesar de isto a variação latidudinal da temperatura se manifesta pela diferencia da ordem de 4 ºC que se observa entre as costas meridional e setentrional , e a diferencia de 2 ºC entre as does planaltos . Outro aspecto a considerar é que a periferia mediterrânea é 2 ºC mas quente que a atlântica . Outro aspecto a no esquecer é a penetração para o interior através dos rios o carter mas temperado do mar, o que especialmente profunda no Tejo, Guadiana e Guadalquivir . Pelo lado do mediterrâneo esta penetração do ar morno se faz sentir em menor grau devido a que os ventos de Este são menos frequentes que os ventos de Oeste. Figura 1 b) Onde estão representados os valores médios anuais desde 1958 a 2004 com dados de NECEP/NECAR
Damos alguns casos em destaque da variabilidade espacial que resultam de valores observados no periodo de 1943 a 2004. Asssi sendo: 1) - O valor ao nível do mar varia entre pouco menos de 14 ºC em pontos da costa Cantábrica até pouco mais de 18ºC no Sul mediterrâneo e na costa sul atlântica; 2) - ao longo do litoral mediterrâneo oriental a temperatura média anual varia entre 15ºC em alguns sectores da costa de Catalunha à 18 ºC na costa de Almeria. Nas Baleares os valores junto ao mar variam entre 16 e 18 ºC; 3) a temperatura média anual pode ser negativa por cima dos 800 m na metade norte peninsular (positivas em certos pontos da serra Nevada a 3100 m; 4) a meseta setentrional apresenta valores entre 10 e 12.5ºC e a meridional entre 12.5 e 15, em geral; 5) as terras baixas da bacia de Ebro apresentam temperaturas médias anuais superiores a 15 ºC; 6) os valores diminuem desde litoral ao interior, diminuindo de poente à nascente (figura 1 b)
O gradiente térmico anual, em Portugal, vai aumentando de Norte para Sul. O efeito amortecedor (regulador) do Oceano Atlântico e da Latitude está bem patente nas temperaturas mínimas. Observamos que no período de 1949-2000 a isotérmica de 10.5 ºC passa sobre Aveiro no mapa das temperaturas mínimas enquanto que, no mapa das temperaturas máximas a isotérmica é de 20 graus no mesmo período.Esses valores não oscilam muito daqueles encontrados por Loureiro e Macedo (1986) no período de 1952-1982. A temperatura média anual na bacia hidrográfica do rio Vouga oscila entre os 12.3 ºC no Caramulo e os 15ºC em Anadia, sendo o valor da temperatura média anual na bacia de 12.7 ºC, Fonte; T (1983) que encontrou valores anuais médios das mínimas de 11ºC e medias das máximas 18.1ºC no período de 1931-60.No período de 1981-2000 a temperatura médias anual é de 15.6 ºC. A médias das mínimas é de 14.8 e a das máximas é de 17.0 ºC. A diferença descreve precisamente a interpolação gráfica da distribuição espacial com o valor estatístico das médias observadas nos últimos 20 anos.
Precipitação
É um dos elementos mais importantes de Espanha, tanto desde o ponto de vista climático como de recursos, dada a sua elevada variação temporal e espacial. O total médio anual tem servido tradicionalmente para distinguir 3 grandes áreas: a Espanha húmida, seca e semidesértica. A divisão entre húmida e seca é estabelecida na isoeta dos 800 mm, em alguns casos na dos 600 mm. A divisão entre a Espanha seca e semidesértica (as vezes denominada árida ou semi-árida), é estabelecida nas isoetas dos 300 ou 350 mm. Esta divisão não tem representação espacial claramente separada. Assim, o mapa da precipitação media anual da Espanha é muito complexo como se mostra na figura 1 a).
A Espanha húmida ocupa a região denominada por Font 1986 a Zona Verde. Os valores médios superam os 1000 mm, e atingem os 2000 mm nos sectores expostos aos fluxos marítimos. A zona seca compreende as duas plantos( a bacia do Ebro e a depressão do Guadalquivir) e grande parte da zona oriental (excepto SE e os litorais Sul Atlântico e Sul Mediterrâneo). Também pertencem a Espanha seca as partes médias e altas do arquipélago das Canárias, Ceuta e Melilha. Valores próximos de 500 mm são frequentes na Espanha seca. A Espanha semidesértica está localizada no SE da Península de Almeria, Múrcia, Granada e Alicante. Ficam a margem algumas pequenas área nas Bacias Hidrográficas do Douro e Ebro, Lanzarote, Fuerteventura e nas terra baixas das ilhas Canárias (excepto Palma).
Precipitação media anual (mm) |
Temperatura media anual (1948-2004) |
A quantidade média total de precipitação que cai em Portugal é de 8,4x1010 m3 por ano, não estando distribuída uniformemente no tempo nem no espaço. Há regiões onde a precipitação é bastante superior a que é produzida em outras, Por exemplo, as regiões a norte do rio Tejo recebem mais de 65% da quantidade total de precipitação caída em Portugal. A norte do Tejo, a precipitação é maior variando de 750 mm à 1450 mm. No Sul, é inferior à 650 mm
Tendências
As séries de precipitação não apresentam tendências significativas no período de (1931-2004), pelo que não se pode afirmar do ponto de vista estatístico que a precipitação acumulada anual tenha aumentado ou diminuído em nenhuma das zonas climáticas. Si olhamos para os resultados pelos valores médios anuais para toda a PI (janela das figuras 1 e 2 ), no período de 1958-2004 com dados de Reanalysis NECEP/NECAR, se observa uma descida dos valores da precipitação anual, sendo mais notável a partir de 1980.
Evolução temporal da precipitação média anual para toda a PI Dados de Reanalysis NECEP/NECAR.
Notifiquemos que os 2 máximos de 19.4 ºC acontecem nos anos de 1989 e 1997 (coincidindo com anos intensos de El Niñ). As temperaturas mínimas mostram uma subida dos valores médios das mínimas na PI no mesmo período a tendência é menos acentuada que nas máximas, com uma subida acentuada nos últimos anos.
Em Portugal continental As variações da precipitação são irregulares.Existe uma diminuição significativa da precipitação em Março (e em Fevereiro no último período), em todo o país, com uma forte correlação negativa com o índice da Oscilação do Atlântico Norte (NAO).
Evolução temporal de temperatura média anual das máximas para toda a PI Dados de Reanalysis NECEP/NECAR |
Evolução temporal de temperatura média anual das máximas para toda a PI Dados de Reanalysis NECEP/NECAR |
As series de valores de temperaturas medias das mínimas anuais em Portugal Continental é clara a semelhança com o comportamento da media das mínimas sobre a PI existe uma tendência negativa na de 1945 a 1975 de -0.18 ºC/década, segue uma subida de 1976 a 2000 de +0.48ºC/década. O mesmo acontece com as series da temperaturas medias das máximas uma descida de -0.14ºC /década (1945 a 1975) e subida de +0.14 ºC/década (1976 a 2000). É significativo o aumento da temperatura média. Em geral o aumento é maior no caso da temperatura mínima, implicando uma diminuição da amplitude térmica diária.
Regionalização climática.
Com a amplitude de valores foi feita uma distribuição espacial com o objectivo de regionalizar o clima da Espanha contando com a contribuição de diferentes autores como Linés 1970, Tullot 2000, Campel Molina 2000, Martim Vide e Olcina 2001 e amplificado para Portugal Continental e insular.
Tipo |
Subtipo | Variedade | P (mm) | Reg.U.Est | T(ºC) | DT(ºC) |
Outras Características |
||||
O
|
|
Galega | 1000-2500 |
Max. Inverno e Min. Estival - |
11-15 | 8.5-12 |
Abundantes nuvens e elevada humidade ambiental |
||||
Asturiana e Cantábria | 900-1500 | 12-14 | 10-11 | ||||||||
Vasco litoral | 1100-2000 | - | |||||||||
- | 1000-2500 | <12 | - | ||||||||
A T L A N I C O
|
Continental | Litoral | Norte | 900-1200 |
Máxima em Inverno e Primavera Mínima Estival |
14-14.5 | 9-20 |
|
|||
Centro | 700-640 | 16-17 | 10-22.5 | ||||||||
Sul | 440-700 | 14.8-16.8 | 19.6-22.5 | ||||||||
Interior | Norte | 1000-1300 | 13.6-14.7 | 6-21.2 | |||||||
Centro | 960-1050 | 15-16 | 9-23 |
Abundantes nuvens e elevada Gradas frequentes em inverno |
|||||||
Sul | 450-660 | 15.6-18 | 9-24 | ||||||||
Insular | Açores | 960-1450 |
Com menor precipitação no Verão |
17-18 | 14-23 |
Abundantes nuvens e elevada humidade relativa |
|||||
Madeira | <550 | - | 19 | 16-22 | - | ||||||
M
|
|||||||||||
Sob Mediterrâneo |
- | 700-1000 | - | 11-14 | 14.5-16 | - | |||||
Continental |
Meseta | Norte | 350-550 |
Máxima em Inverno e Primavera Mínima Estival |
10-12.5 | 16-18 | Geada frequentes em Inverno | ||||
Sul | 350-550 | - | 12-15 | 18-20.5 | Temperatura Máxima estival | ||||||
Vale do Ebro | 300-550 |
Máximo equinócios |
13-15 | 18-20 | Vento de NW seco | ||||||
De Fachada Oriental |
Catalunha | 550-750 | Máxima Outono | 14-17 | 14-17 |
Precipitações Torrenciais Outono |
|||||
Valência | 400-850 |
Mínima Estival |
15.5-17.5 | 13.5-16.5 | |||||||
Balear | 400-800 | 16-18 | 13.5-15.5 | ||||||||
Meridional - - |
-Litoral | 400-700 |
Máxima inverno Mínima Estival |
17-10.5 | 10-10.5 | Geadas excepção | |||||
Vale do Guadalquivir | 550-650 | - | 17-18.5 | 15-18.5 |
Temperatura Máxima estival muito alta -Extrema aridez |
||||||
Estremenho | 450-600 | - | 16-16.5 | 15.5-18 |
Temperatura Máxima estival muito alta -Extrema aridez |
||||||
-Árido Sul-Este | - | 150-350 | Mínimo estival | 14.5-18.5 | 13.5-17 | Extrema aridez | |||||
de montanha |
600-2000
|
<14
|
|||||||||
Sub-tropical Canário |
|||||||||||
Litoral |
75-350 |
Máxima Invernal |
18-21 | 5-7.5 |
Alísios ao Norte Extrema aridez Elevada Humidade |
||||||
De montanha mar de nuvens |
500-1000 |
Mínima Estival |
13-15 | 6-8 |
Elevadahumidadeambiental |
||||||
De altura | 450-700 | <12 | 12-14 | Ar muito seco |
Tabela 1:P, precipitação media anual (mm); Reg.u.est., regime udiométrico
estacional, temperatura media anual (ºC); DT, amplitude térmica media anual (ºC).Regionalización
climática de España.
Fuente:
Martín Vide, J. y Olcina (2001):
Padrões de circulação no clima da Península Ibérica
Oscilação do Atlântico Norte -NAO
A Oscilação do Atlântico Norte (NAO) é uma das principais fontes da
variabilidade interanual da circulação atmosférica em dito sector.
Tradicionalmente, se define o índice NAO como a diferença de pressão atmosférica
entre a estação localizada na Islândia (Akuyeri o Stykkisholmur) e outra no
Arquipélago dos Açores (Ponta Delgada) (WALKER e BLISS, 1932).O interesse deste
índice tem-se renovado ultimamente pelo aparente domínio de fases positivas
desde finais dos anos 70. De facto, HURRELL (1995), demonstrou que este fenómeno
explica mais de 36% da variança do campo da pressão média de Dezembro à Março.
Dentro da região compreendida entre 20_ 80 N e 90W-40 E. junto a pressão
atmosférica, o índice NAO condiciona boa parte da variabilidade dos padrões da
temperatura e precipitação sobre Europa (OSBORN, et al., 1999).A Península
Ibérica não fica fora desta influência, sendo o sector mais ao Sul ocidental
(durante os meses frios do ano,”Outubro-Março”), o que apresenta uma melhor
correlação entre os valores deste índice e a precipitação como foi confirmado
pelos autores (MART´IN-VIDE et al., 1999; PITA et all., 1999).
Foram analisadas correlações entre os valores da NAO e da
precipitação em Dezembro e se comprovou que os valores variam entre -0,5 e
-0,7 numa boa parte do centro e sudoeste da península. Portanto, boa parte do
comportamento do regime de precipitação deste sector responde a dinâmica
do dipólo da pressão atmosférica entre Islândia e Lisboa ou Açores.
Índice de Oscilação do Mediterrâneo Ocidental -WeMO
O Índice de Oscilação do Mediterrâneo Ocidental (WeMO) é
definido como diferença de pressões estandardizadas entre Cadiz-San Fernando e
Pádua. Este padrão de variabilidade de baixa frequência mostra correlação
negativa com a precipitação no inverno (Janeiro) em Múrcia, Alicante e
Valência, melhor que a encontrada na NAO.Tal di-pólo está constituído por um
centro de acção no atlântico próximo da Península Ibérica e outro
localizado na área do centro da Europa e o norte da Península Itálica, que
reflectem comportamentos das regiões atmosféricas mais importantes enquadradas
na bacia mediterrânea ocidental. A fase positiva se configura a partir de
um anticiclone que se forma à oeste da Península Ibérica, intensificando a
alta de Açores e uma baixas demissionária ao norte da Península.Tanto em
Itália como no Adriático, esta situação sinóptica fornece a advecção de
fluxos de componente norte para o interior da bacia do Mediterrâneo ocidental. A
fase negativa corresponde o contrário, com uma baixa no golfo de Cádiz ou na
área limitada entre Açores-Madeira, Canárias e SE ibérico e com altas pressões
no centro da Europa e ao norte de Itália. Tal situação favorece os fluxos de
componente Este numa boa parte da bacia marítima considerada (figura 4).
Então, o índice de Oscilação do Mediterrâneo Ocidental (WeMOi) caracteriza-se
como a diferencia entre as pressões à superfície estandardizadas de Cádiz-San
Fernando e de Pádua. Cada série de pressões (seja dum mês determinado) de ambas
as cidades é transformada em valores segundo as suas próprias médias e desvios
padrões, através das quais se restam os valores estandardizados (Cádiz-San
Fernando menos Pádua).
Links didácticos de Climatologia
Dinâmica do Clima: http://www.cgd.ucar.edu/
Construção de mapas
-
ttp://rimmer.ngdc.noaa.gov/cgi-bin/mgg/coast/get_coast.pl
- http://rimmer.ngdc.noaa.gov/cgi-bin/mgg/coast/get_coast.pl
Temas de interesse que dizem respeito a Climatologia